Dia 188 - O começo...

Desde o início, eu recebi alguns sinais de que seria bem interessante registrar esse tempo louco que estamos vivendo. Uma das primeiras tarefas escolares do meu filho (5˚ ano) foi: "escreva um diário contando sobre seus dias na quarentena". Achei fantástico! Sempre amei diários e fiz o possível para contagiar o filhote com meu entusiasmo. Algum tempo depois, minha sogra passou por um procedimento cirúrgico, em plena quarentena, e na volta do hospital passou uns dias de isolamento aqui em casa. Ela ficou isolada com quarto e banheiro exclusivos e todo o conforto que pudéssemos proporcionar. Numa de nossas conversas, entre máscaras, ela me falou: "estou aproveitando pra fazer um registro afetivo disso tudo que estou vivendo. Eu faço meu registro daqui e quem sabe vcs fazem daí...". Achei tão bonito, mas naqueles dias acabei não aderindo à proposta.

No começo disso tudo eu me deixei levar pelo "que naaadaa!!! Daqui a pouco tudo isso passa e nem vamos lembrar muito bem depois de um tempo...". Só que não. Já passamos dos 180 dias do que começou sendo chamado de quarentena, mas rapidinho passou dos 40 dias e aí já estavam chamando de isolamento social, mas logo surgiu outra crise nominal porque isolamento seria recomendado para quem estava contaminado ou teve contato com alguém contaminado pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Para o restante da população passou a ser recomendado o distanciamento social.

Identificado em Wuhan, China, em dezembro de 2019, o novo coronavírus causou a COVID-19, doença que rapidamente se disseminou pelo planeta (quando escrevo isso sinto como se estivesse escrevendo um roteiro de ficção científica) e passou a se apresentar tanto de maneira assintomática quanto com sintomas que remetiam desde um resfriado leve até uma pneumonia severa (fonte AQUI).

Esse diário não tem a intenção de fazer análises ou registros científicos (quem sou eu?), nem sociológicos no sentido mais amplo (tenho certeza de que tem muita gente competente se empenhando nisso). Minha motivação primeira é fazer um registro de memórias de uma época sui generis que, do fundo do meu coração, eu espero que logo se torne apenas um pontinho na minha linha do tempo. Outro sentimento que me move a escrever é que, embora eu não esteja sozinha vivendo estes dias loucos, em muitos momentos me sinto só...

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Lá no começo de tudo, início do mês de março, antes mesmo de ser "só" uma quarentena... Claro que já sabíamos o que estava acontecendo em outras partes do mundo. As notícias pipocavam sobre a China, Europa e avançando. Mas até aí preciso confessar que aquele sentimento de estar imune, aquela sensação com a qual já estamos acostumados de que "só acontece com os outros" ainda era forte pra mim. 

Surreal mesmo foi o dia em que meu marido saiu pra trabalhar, num dia qualquer e me ligou contando que um evento de grande porte, para o qual ele, com toda uma equipe, estavam ensaiando um espetáculo, havia sido cancelado por conta do novo coronavírus. Aqui, em nossa cidade, no sul do (nosso) mundo, longe de tudo o que a mídia noticiava até então, no mesmo dia recebemos um aviso da escola de nosso filho dizendo que estaria aberta apenas até o final da semana, depois fechariam por 14 dias como medida de segurança. Era uma terça-feira e a partir do dia seguinte Joaquim já não foi mais à escola. Os 14 dias já são mais de 180 dias.

Dia 17 de março de 2020 foi o dia 1.


Imagem: https://www.oficinadanet.com.br/coronavirus/30286-coronavirus-no-brasil


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